O que está acontecendo com a segurança dos voos no Brasil?!


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A segurança é um pilar essencial para a operação eficiente do setor aéreo, garantindo não apenas a integridade dos passageiros e tripulantes, mas também a estabilidade econômica e operacional das companhias. Nos últimos anos, no entanto, o Brasil tem enfrentado desafios significativos, que estão sendo refletidos no aumento do número das ocorrências aeronáuticas e na baixa taxa de investigações de acidentes aéreos concluídas. Entre 2007 e 2018, mais de R$ 5 bilhões foram gastos com as consequências diretas e indiretas de acidentes aéreos no país, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Esses números evidenciam um problema de segurança persistente, agravado pela dificuldade em implementar soluções eficazes e alinhadas às particularidades regionais.

Diferente de outras nações que têm registrado uma redução na taxa de acidentes, o Brasil segue uma trajetória preocupante de crescimento nas ocorrências. A lacuna entre o número de acidentes e o total de investigações finalizadas impede a adoção de medidas preventivas mais eficazes, dificultando a identificação e mitigação das causas subjacentes aos eventos. Segundo dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), menos de 20% das ocorrências têm suas investigações concluídas no país. Esse cenário limita o desenvolvimento de uma cultura de segurança baseada em dados e evidências concretas.

Neste contexto, compreender os principais fatores contribuintes para os acidentes, bem como as disparidades regionais na segurança operacional, torna-se essencial para propor estratégias de mitigação mais eficazes. A implementação de novas tecnologias para análise de dados, a modernização dos processos investigativos e a adoção de um modelo de segurança operacional segmentado por região são apenas algumas das soluções que podem transformar o cenário atual. Além disso, sem ações concretas, o Brasil corre o risco de enfrentar um aumento ainda maior nas ocorrências, com impactos significativos para o setor aéreo e para a sociedade como um todo.

Este artigo tem como objetivo analisar os principais problemas da segurança aérea brasileira, discutir soluções baseadas em modelos eficazes já adotados globalmente e projetar os impactos da inação. A partir dessa abordagem, busca-se contribuir para o fortalecimento da cultura da segurança operacional no Brasil, promovendo um ambiente mais seguro e eficiente para todos os usuários do setor.

*Este artigo é fundamentado no estudo: Principais fatores contribuintes para ocorrência de acidentes aéreos no Brasil e suas correlações regionais.
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Problemas na segurança aérea brasileira

A segurança operacional na aviação depende de uma série de fatores que vão desde a capacitação dos profissionais até a infraestrutura e os processos organizacionais envolvidos. No Brasil, a análise dos dados fornecidos pelo CENIPA sobre as ocorrências aeronáuticas do período entre 2007 e 2023 revelou problemas estruturais e operacionais que contribuem para um cenário preocupante. O baixo percentual de investigações concluídas, as disparidades regionais no gerenciamento da segurança e o aumento da taxa de acidentes são alguns dos principais desafios que precisam ser enfrentados. A seguir, uma breve explicação sobre cada um destes pontos:

Fonte: Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.

Baixa taxa de conclusão de investigações

Menos de 20% das ocorrências aeronáuticas no Brasil têm suas investigações finalizadas, um índice muito inferior ao recomendado por órgãos internacionais. Isso significa que a maioria dos acidentes e incidentes não passa por um processo de análise detalhada que possibilite a adoção de medidas preventivas eficazes.

A falta de conclusão das investigações pode ser atribuída a diversos fatores, como:

  • Déficit de recursos humanos e tecnológicos nos órgãos responsáveis pela segurança operacional.

  • Falta de prioridade na conclusão dos relatórios, impactando diretamente a capacidade de aprendizado a partir das ocorrências passadas.

  • Dificuldades na coleta e análise de dados devido à extensão territorial do Brasil e às diferentes realidades regionais da aviação.

A consequência direta desse problema é a repetição de erros e falhas que poderiam ser evitados caso as investigações fossem conduzidas de maneira mais eficiente.

Desigualdades regionais na segurança operacional

Fonte: Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. Clique na imagem para fazer o download.

Outro ponto crítico identificado na segurança aérea brasileira é a disparidade entre os estados no que diz respeito à ocorrência de acidentes e à investigação desses eventos. Estados com maior volume de tráfego aéreo, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, registram um alto número de ocorrências, o que, em valores absolutos, pode ser esperado. Entretanto, há estados com baixa demanda por voos que apresentam índices de acidentes desproporcionalmente elevados.

Exemplo disso são os estados do Acre, Roraima e Tocantins, que, apesar de representarem apenas 0,76% das decolagens nacionais, foram responsáveis por 2,82% do total de eventos de segurança aérea. Essa diferença pode indicar fragilidades específicas na infraestrutura e nos processos operacionais dessas regiões.

Por outro lado, estados como Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte apresentam o menor índice de investigações finalizadas, o que compromete a adoção de políticas eficazes de prevenção. A dificuldade em concluir investigações nesses estados sugere que as falhas operacionais e organizacionais não são identificadas e corrigidas, aumentando a reincidência de problemas de segurança.

Aumento das ocorrências e redução das investigações

Fonte: Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. Clique na imagem para fazer o download.

Os dados analisados mostram uma tendência preocupante de aumento nas ocorrências aeronáuticas no Brasil desde 2017. Em 2023, o número total de acidentes, incidentes e incidentes graves cresceu aproximadamente 160% acima da média histórica, contrariando a tendência mundial de redução das taxas de novos acidentes. Enquanto no resto do mundo houve uma queda de 17,9% na taxa de acidentes entre os anos de 2022 e 2023, no Brasil esse índice aumentou 3,87% no mesmo período.

Ao mesmo tempo, o percentual de investigações finalizadas vem diminuindo gradativamente desde 2018. A queda na capacidade investigativa do Brasil reflete diretamente na falta de ações preventivas eficazes, já que a ausência de dados concretos dificulta a tomada de decisão baseada em evidências.

Fonte: Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. Clique na imagem para fazer o download.

Esse cenário reforça a necessidade de reformulação das estratégias de segurança operacional no Brasil. Sem mudanças estruturais e operacionais, os índices de acidentes tendem a continuar em ascensão, colocando em risco a segurança dos voos e a confiabilidade do setor aéreo nacional.

Na próxima seção, discutiremos as soluções para esses problemas, incluindo a modernização das investigações, o uso de novas tecnologias e a adoção de uma abordagem regionalizada para a promoção da segurança operacional.

Soluções e medidas preventivas

Diante dos desafios enfrentados pela segurança aérea no Brasil, é essencial adotar medidas que aumentem a eficiência das investigações, melhorem a capacitação dos profissionais e reduzam a incidência de fatores contribuintes nos acidentes. A seguir, apresentamos algumas das soluções mais promissoras para mitigar os riscos e promover um ambiente operacional mais seguro.

  1. Aumento da capacidade de investigação e finalização de relatórios

A baixa taxa de investigações concluídas (abaixo de 20%) compromete a capacidade de aprendizado com acidentes anteriores e impede a implementação de medidas corretivas eficazes. Para reverter esse cenário, algumas ações podem ser adotadas:

  • Reforço na estrutura dos órgãos de investigação: Aumentar o número de investigadores, modernizar os laboratórios de análise de acidentes e melhorar a distribuição de recursos entre os Serviços Regionais de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPAs).

  • Criação de prazos regulatórios para conclusão de investigações: Estabelecer metas e indicadores de desempenho para garantir que os relatórios finais sejam entregues em um tempo adequado, sem abrir mão da qualidade do material produzido.

  • Integração entre CENIPA e universidades: Parcerias com centros acadêmicos podem acelerar a análise de dados e a formulação de recomendações de segurança baseadas em metodologias científicas.

Ao fortalecer a capacidade investigativa, o Brasil poderá desenvolver uma cultura de segurança baseada em dados, permitindo ações preventivas mais assertivas.

     2. Emprego de novas tecnologias para análise preditiva e mitigação de riscos

A aplicação de tecnologias emergentes pode tornar a segurança operacional mais eficiente. Entre as principais inovações que podem ser implementadas estão:

  • Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning: Modelos preditivos podem analisar padrões de ocorrências e identificar riscos potenciais antes que se tornem acidentes. Empresas como Boeing e Airbus já utilizam sistemas de IA para prever falhas em componentes das aeronaves.

  • Big Data e análise de dados: A centralização de informações sobre acidentes, meteorologia, tráfego aéreo e desempenho de tripulações pode gerar insights para antecipar situações de risco.

  • Manutenção preditiva: O uso de sensores inteligentes para monitoramento contínuo dos sistemas das aeronaves pode reduzir falhas mecânicas, um dos fatores contribuintes de acidentes.

  • Blockchain para segurança da informação: A tecnologia pode ser aplicada na gestão de registros de manutenção e licenciamento, garantindo rastreabilidade e evitando fraudes em inspeções.

Essas tecnologias já estão sendo utilizadas em diversos países para aprimorar a segurança operacional, e sua implementação no Brasil pode reduzir significativamente a incidência de ocorrências. 

3. Treinamento e melhoria da cultura organizacional de segurança

Grande parte das ocorrências aéreas no Brasil envolve fatores humanos, a análise dos dados fornecidos pelo CENIPA indica que três fatores se destacam como os principais contribuintes para os acidentes e incidentes aéreos ocorridos no país:

Fonte: Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.

  • Julgamento de pilotagem: Consiste no processo de tomada de decisão inadequado pelos pilotos durante o voo, frequentemente ligadas a falhas na avaliação de riscos, na interpretação de informações ou na escolha das melhores ações em situações críticas.

  • Aplicação de comandos: Erros na execução de manobras e no controle da aeronave, incluindo comandos insuficientes ou excessivos, que podem resultar em perda de controle ou falhas operacionais.

  • Supervisão gerencial: Falhas na gestão e no monitoramento das operações por parte das companhias aéreas, incluindo deficiências no treinamento, na alocação de recursos e no cumprimento de normas de segurança.

Esses fatores evidenciam que, embora a aviação brasileira tenha evoluído bastante tecnicamente, nos últimos anos, ainda há deficiências significativas na capacitação operacional e na cultura organizacional de segurança. Para mitigar esses problemas, pode ser necessário investir mais em:

  • Aprimoramento do treinamento de pilotos e controladores: Simulações avançadas de voo, treinamentos focados na gestão de ameaças e erros (Threat and Error Management - TEM) e reciclagens periódicas podem melhorar a capacidade de resposta a situações críticas.

  • Fortalecimento da cultura de segurança nas empresas: Reforço na adoção e manutenção de programas de segurança não punitivos (Just Culture), incentivando a comunicação de falhas sem medo de represálias, o que possibilita a identificação de riscos antes que ocorram acidentes.

  • Treinamento contínuo para gestores e supervisores: Como a supervisão gerencial foi identificada como um dos principais fatores contribuintes para acidentes, é essencial capacitar os líderes para que esses promovam um ambiente de trabalho mais seguro e eficiente.

Um ambiente organizacional voltado para a segurança ajuda a reduzir erros operacionais e a criar uma cultura de prevenção mais robusta.

4. Políticas regionais e segmentadas para segurança operacional

O Brasil tem características geográficas e operacionais muito distintas entre suas regiões, o que exige uma abordagem personalizada para a segurança aérea. Para melhorar a eficácia das medidas preventivas, o país pode adotar o modelo proposto pela Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) de Planos Regionais de Segurança Operacional (RASP).

  • Segmentação das políticas de prevenção por estado: A análise dos fatores contribuintes por região pode indicar quais medidas devem ser priorizadas localmente. Estados como São Paulo e Rio de Janeiro, com alta movimentação de voos, podem focar em melhorias no controle do tráfego aéreo, enquanto estados como Acre e Roraima podem necessitar de investimentos em infraestrutura aeroportuária.

  • Criação de metas de segurança por região: Cada estado ou SERIPA pode estabelecer metas personalizadas para a redução de incidentes e melhorias na gestão de segurança operacional de sua localidade.

  • Investimento direcionado: Recursos para investigação e prevenção podem ser alocados de forma estratégica, priorizando estados que apresentam maior desproporção entre número de voos e ocorrências.

Esse modelo segmentado já é aplicado em diversas partes do mundo, como na União Europeia e nos Estados Unidos, e tem demonstrado bons resultados na redução de acidentes. O mapa abaixo, apresenta os principais fatores contribuintes de acidentes e incidentes aéreos por estado, no Brasil, e foi desenvolvido a partir da análise dos dados obtidos com as investigações finalizadas.

Fonte: Principais fatores contribuintes para ocorrência de acidentes aéreos no Brasil e suas correlações regionais.

A implementação dessas medidas pode reverter a tendência de crescimento das ocorrências aéreas no Brasil e alinhar o país às melhores práticas internacionais de segurança operacional. Entretanto, caso nenhuma ação concreta seja tomada, o cenário pode se agravar nos próximos anos. Na próxima seção, analisaremos as consequências da inação e os impactos que a falta de medidas preventivas pode causar ao setor aéreo nacional.

Consequências da inação

A ausência de medidas efetivas para mitigar os problemas de segurança aérea no Brasil pode gerar um impacto significativo no setor. A tendência de aumento das ocorrências, somada à baixa taxa de investigações concluídas, compromete não apenas a segurança dos passageiros e tripulantes, mas também a confiabilidade do transporte aéreo nacional. Caso nenhuma ação seja tomada para solucionar as deficiências apontadas, o cenário futuro pode incluir diversos problemas críticos. Nesta seção, iremos pontuar alguns deles:

1. Aumento contínuo das ocorrências e acidentes

Se as tendências observadas nos últimos anos se mantiverem, o Brasil poderá registrar um crescimento ainda maior no número de ocorrências aéreas. Desde 2017, o país já apresenta uma alta média anual de 26,35% no total de ocorrências, enquanto outros países têm conseguido reduzir seus índices. O crescimento descontrolado dessas ocorrências pode gerar:

  • Maior número de fatalidades: A falta de prevenção adequada pode levar a acidentes de maior gravidade, aumentando o número de vítimas fatais.

  • Maior taxa de incidentes e falhas operacionais: Sem a devida investigação e correção dos fatores contribuintes, a repetição de erros operacionais e técnicos se tornará mais frequente.

  • Prejuízo para a infraestrutura aeroportuária: O aumento de incidentes pode comprometer pistas, hangares e outras estruturas aeroportuárias, elevando os custos de manutenção e reparo.

A incapacidade de conter essa escalada pode comprometer a segurança operacional e tornar o Brasil um dos países com os piores índices de segurança aérea no mundo.

2. Impacto econômico e financeiro no setor aéreo 

Os acidentes e incidentes aéreos geram custos elevados para empresas e para o governo. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), entre 2007 e 2018, o Brasil gastou mais de R$ 5,4 bilhões com acidentes aéreos. Caso a taxa de ocorrências continue aumentando, os impactos financeiros podem se intensificar, incluindo:

  • Aumento nos custos operacionais das companhias aéreas: Danos em aeronaves, processos judiciais e indenizações podem levar a aumentos no preço das passagens aéreas e a dificuldades financeiras para empresas do setor.

  • Crescimento das despesas públicas com investigações e reparações: Sem uma estratégia eficaz para concluir investigações, o desperdício de recursos em processos demorados e ineficientes tende a aumentar.

  • Elevação dos custos com seguros e coberturas para acidentes: O mercado de seguros para aviação pode reagir com aumentos nos valores de apólices, tornando a operação aérea mais cara e menos acessível.

O impacto financeiro não se limita ao setor aéreo, podendo afetar a economia nacional ao reduzir a competitividade e a conectividade do Brasil no cenário global.

3. Perda de credibilidade e danos à reputação da aviação brasileira

A reputação da aviação civil brasileira, tão prestigiada desde a época de Santos Dumont, criador do avião, pode sofrer danos irreversíveis caso o país não tome medidas para conter o crescimento das ocorrências. Entre as consequências da falta de ação estão:

  • Redução na confiança dos passageiros: O aumento no número de acidentes pode levar a uma queda na demanda por voos, prejudicando tanto o setor comercial quanto o setor de turismo.

  • Dificuldades em manter acordos internacionais: A falta de segurança pode resultar em restrições operacionais impostas por órgãos reguladores internacionais, dificultando a atuação de companhias aéreas brasileiras no exterior.

  • Possível rebaixamento do Brasil em auditorias internacionais de segurança aérea: A Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) realiza auditorias periódicas para avaliar a segurança operacional dos países. Caso o Brasil não implemente melhorias, há o risco de rebaixamento, o que pode resultar em sanções e restrições para voos internacionais.

Esses impactos podem afastar investimentos e comprometer o desenvolvimento do setor no Brasil.

4. Aumento da pressão regulatória e possíveis sanções

A continuidade dos problemas na segurança aérea pode levar a um endurecimento da regulação do setor, impactando empresas, pilotos e órgãos reguladores. Algumas possíveis consequências incluem:

  • Criação de normas mais rígidas para operação de aeronaves e certificação de pilotos: O aumento de acidentes pode resultar em exigências mais rigorosas, elevando os custos e burocracia para empresas e profissionais da aviação.

  • Intervenção de organismos internacionais: Caso os índices de segurança piorem, o Brasil pode ser alvo de recomendações ou até mesmo de sanções por parte de órgãos como a ICAO e a IATA.

  • Maior fiscalização e penalizações para companhias aéreas e órgãos governamentais: A ANAC pode ser pressionada a impor penalidades mais severas às empresas que não cumprirem padrões de segurança.

A falta de ação pode, portanto, resultar em uma regulação mais complexa e onerosa para o setor, sem, necessariamente, solucionar os problemas de segurança operacional.

O cenário projetado para o futuro, caso nenhuma ação seja tomada, é alarmante. No entanto, ainda há tempo para reverter essa situação por meio da implementação de soluções, como algumas propostas na seção anterior. Na próxima e última seção, faremos uma síntese das principais conclusões deste artigo e reforçaremos a importância da adoção de medidas eficazes para garantir um futuro mais seguro para a aviação brasileira.

Considerações

A segurança aérea no Brasil enfrenta desafios significativos, caracterizados pelo aumento no número de ocorrências, pela baixa taxa de investigações concluídas e pelas disparidades regionais no gerenciamento da segurança operacional. Os fatores humanos, como julgamento de pilotagem, aplicação de comandos e supervisão gerencial, figuram entre as principais causas de incidentes e acidentes aéreos no país, evidenciando a necessidade de aprimoramento no treinamento de tripulantes e na gestão organizacional das empresas aéreas.

Os dados fornecidos pelo CENIPA revelam um cenário preocupante: enquanto no resto do mundo a taxa de novos acidentes tem diminuído, no Brasil, o número de ocorrências vem crescendo desde 2017. Além disso, a taxa de finalização de investigações no país é extremamente baixa, impossibilitando uma abordagem eficaz para a prevenção de novos acidentes. Essa realidade demanda ações urgentes para evitar impactos ainda mais negativos para a segurança, a economia e a reputação do setor aéreo brasileiro.

Caso tais medidas não sejam implementadas, o Brasil corre o risco de enfrentar um cenário de inação com graves consequências, incluindo o aumento contínuo do número de acidentes, impactos financeiros elevados, perda de credibilidade da aviação no cenário global e endurecimento das regulamentações do setor. Além disso, a falta de avanços na segurança operacional pode comprometer o crescimento da infraestrutura aeroportuária e dificultar a adoção de novas tecnologias, como as aeronaves elétricas e os eVTOLs.

Portanto, o fortalecimento da segurança aérea brasileira deve ser tratado como prioridade. A implementação de políticas de prevenção eficazes, baseadas em dados e segmentadas por região, permitirá não apenas reduzir o número de ocorrências, mas também tornar o setor mais confiável, eficiente e preparado para os desafios futuros. O compromisso com a segurança operacional não é apenas uma necessidade regulatória, mas um fator essencial para garantir o crescimento sustentável e a preservação de vidas na aviação civil brasileira.


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Sobre o autor: 
Antônio Lourenço Guimarães de Jesus Paiva 
Pai da Helena
Diretor da Flylines 
Graduado em Aviação Civil pela Universidade Anhembi Morumbi
Especialista em Planejamento e Gestão Aeroportuária pela Universidade Anhembi Morumbi
Especialista em Gestão de Marketing pela Universidade de São Paulo
Especialista em Data Science e Analytics pela Universidade de São Paulo
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