Point-to-Point ou Hub-and-Spoke: Qual a melhor malha aérea?


Você também pode escutar este artigo em formato de podcast. Para isso, basta clicar em "play".

A estrutura de malha de uma companhia aérea desempenha um papel fundamental na eficiência operacional, nos custos e na experiência do passageiro. Entre os modelos mais utilizados, destacam-se o point-to-point e o hub-and-spoke, cada um com suas vantagens e desafios. O primeiro busca a conexão direta entre cidades, enquanto o segundo organiza a malha a partir de hubs, que atuam como centros de conexões estratégicos.

A escolha entre essas duas abordagens influencia diretamente não apenas as operações das companhias aéreas, mas também o desenvolvimento econômico das regiões atendidas, a eficiência no uso dos recursos e a experiência do cliente.

Neste artigo, aprofundaremos os conceitos desses modelos, sua evolução histórica, sua aplicação atual por grandes companhias aéreas e, por fim, qual modelo se mostra mais adequado conforme o perfil estratégico de cada empresa. Vamos explorar as diferenças de forma detalhada e investigar se há um modelo que possa ser considerado superior para o setor aéreo, como um todo.

Acompanhe esta análise para compreender qual estrutura de malha melhor atende aos diferentes objetivos do setor e como essas escolhas têm o poder de impactar o futuro da mobilidade aérea global.

Conceitos básicos

Point-to-Point

O modelo point-to-point é caracterizado por ligações diretas entre duas cidades, sem a necessidade de escalas ou conexões em grandes aeroportos. Esse sistema é amplamente utilizado por companhias aéreas de baixo custo (low-cost carriers), pois permite voos mais curtos, maior aproveitamento das aeronaves e menores custos operacionais.

Na prática, um passageiro que deseja viajar de uma cidade A para uma cidade B em uma malha point-to-point encontrará um voo direto, sem precisar passar por um aeroporto intermediário. Esse modelo é vantajoso para mercados com alta demanda em rotas específicas, pois reduz o tempo total de viagem e melhora a experiência do passageiro.

Hub-and-Spoke

O modelo hub-and-spoke organiza os voos a partir de um ou mais hubs (hubs são grandes aeroportos que funcionam como centros de distribuição de tráfego aéreo). Em vez de oferecer voos diretos entre todas as cidades atendidas, as companhias estruturam sua malha de forma que os passageiros façam conexões em um hub antes de chegarem ao destino final.

Esse modelo é amplamente utilizado por grandes companhias aéreas e permite uma cobertura mais ampla de destinos com menos rotas diretas, otimizando a ocupação das aeronaves. No entanto, ele pode aumentar o tempo total de viagem devido às conexões.

Diferenças entre os modelos

Para facilitar a compreensão das vantagens e desafios de cada modelo, a tabela ao lado apresenta um comparativo entre os modelos point-to-point e hub-and-spoke.

Com base nessas características, cada modelo tem aplicações específicas conforme a estratégia da companhia aérea. No próximo capítulo, exploraremos como esses conceitos surgiram e evoluíram ao longo do tempo.



Surgimento histórico

A origem do modelo Point-to-Point

O modelo point-to-point surgiu com o crescimento da aviação comercial, especialmente após a desregulamentação do setor aéreo em diversos países. Nos Estados Unidos, esse modelo se fortaleceu na década de 1970 com o surgimento de companhias aéreas de baixo custo, como a Southwest Airlines, que priorizava a eficiência operacional e oferecia voos diretos entre cidades sem depender de grandes hubs.

A lógica por trás do point-to-point era simples: reduzir custos operacionais, minimizar tempos de conexão e aumentar a frequência de voos em rotas específicas com alta demanda. Esse modelo se mostrou eficiente para mercados regionais e rotas curtas, permitindo maior flexibilidade e adaptação às necessidades dos passageiros.

A origem do modelo Hub-and-Spoke

O modelo hub-and-spoke começou a ser amplamente utilizado pelas grandes companhias aéreas após a Segunda Guerra Mundial, quando a infraestrutura aeroportuária se expandiu e as empresas perceberam a necessidade de otimizar a ocupação de suas aeronaves. No entanto, sua consolidação veio com a desregulamentação do setor aéreo nos EUA em 1978, permitindo que as companhias reorganizassem suas malhas de forma mais eficiente.

Grandes empresas, como a Delta Air Lines, a United Airlines e a American Airlines, foram pioneiras na implementação desse modelo, estabelecendo hubs estratégicos em aeroportos como Atlanta (ATL), Chicago (ORD) e Dallas/Fort Worth (DFW). Esses hubs permitiam que as companhias aumentassem sua conectividade sem a necessidade de operar voos diretos para cada destino, maximizando a utilização da frota e aumentando a rentabilidade.

Com o tempo, esse modelo se espalhou pelo mundo, sendo adotado por companhias tradicionais, como a Lufthansa, que utiliza Frankfurt (FRA) como hub principal, e a Emirates, que opera um hub global em Dubai (DXB). Essa abordagem possibilitou a expansão para mercados internacionais e a oferta de mais destinos sem comprometer a eficiência operacional.

A seguir, exploraremos como esses modelos são empregados atualmente por diferentes companhias aéreas e como a escolha entre point-to-point e hub-and-spoke influencia suas estratégias de mercado.

Emprego atual

Atualmente, diferentes companhias aéreas adotam os modelos point-to-point e hub-and-spoke conforme seus objetivos estratégicos. Vejamos algumas delas:

Empresas que utilizam o modelo Point-to-Point

Algumas das rotas mais famosas operadas sob o modelo point-to-point incluem:

  • Londres (STN) – Barcelona (BCN) pela Ryanair, uma das rotas mais movimentadas da Europa.

  • Las Vegas (LAS) – Los Angeles (LAX) pela Southwest Airlines, uma das rotas de curta distância mais operadas nos EUA.

  • Salvador (SSA) – Recife (REC) pela Azul Linhas Aéreas, demonstrando o uso eficiente do modelo no Brasil.

Empresas como a Southwest Airlines, a Ryanair e a easyJet são exemplos clássicos de companhias que utilizam majoritariamente o modelo point-to-point. Essas companhias priorizam voos diretos entre cidades de alta demanda. Esse modelo é especialmente eficiente para empresas de baixo custo (low-cost carriers), permitindo maior flexibilidade e preços mais competitivos.

Empresas que utilizam o modelo Hub-and-Spoke

Algumas das rotas mais icônicas operadas sob o modelo hub-and-spoke incluem:

  • Dubai (DXB) – Sydney (SYD) pela Emirates, conectando a Austrália ao Oriente Médio.

  • Frankfurt (FRA) – Nova York (JFK) pela Lufthansa, consolidando o papel de Frankfurt como um grande hub europeu.

  • Atlanta (ATL) – Londres (LHR) pela Delta Air Lines, aproveitando Atlanta como um dos maiores hubs globais.

Grandes companhias aéreas tradicionais, como American Airlines, Lufthansa, Emirates e Delta Air Lines, utilizam majoritariamente o modelo hub-and-spoke. Esse modelo é vantajoso para oferecer uma ampla rede de destinos, otimizando a ocupação das aeronaves e permitindo um fluxo contínuo de passageiros através dos hubs estratégicos.

Malha híbrida: A combinação dos dois modelos

A ampla maioria das companhias aéreas ao redor do mundo utiliza uma abordagem híbrida, combinando elementos dos modelos point-to-point e hub-and-spoke. Essa flexibilidade permite que as empresas maximizem sua eficiência operacional, aproveitando as vantagens de cada sistema conforme a demanda e a estrutura da malha aérea.

Benefícios da Malha Híbrida

  • Flexibilidade estratégica: Permite adaptar operações a diferentes perfis de rotas, alternando entre voos diretos e conexões via hubs conforme necessário.

  • Otimização da frota: As companhias podem distribuir melhor suas aeronaves, utilizando aeronaves menores para rotas diretas e aeronaves de maior capacidade para “alimentar” grandes hubs.

  • Melhoria na conectividade: A abordagem híbrida amplia a cobertura geográfica sem necessidade de hubs excessivos ou dependência exclusiva de voos diretos.

  • Eficiência de custos: Reduz desperdícios operacionais ao equilibrar custos entre a eficiência dos hubs e a agilidade de cidades ligadas diretamente.

Companhias com malha predominantemente híbrida

Empresas que operam sob esse modelo incluem:

  • LATAM Airlines: Equilibra voos diretos entre grandes capitais e conexões com hubs estratégicos na América Latina.

  • Azul Linhas Aéreas: Usa hubs alternativos como Viracopos (VCP), mas também opera rotas diretas em mercados regionais.

  • Air France-KLM: Mantém hubs em Paris (CDG) e Amsterdã (AMS), mas também opera voos point-to-point em mercados secundários.

  • Turkish Airlines: Conecta passageiros via hub em Istambul (IST), mas oferece muitas rotas diretas para cidades estratégicas.

A malha híbrida tem se mostrado uma solução eficiente para equilibrar conectividade e eficiência operacional, garantindo que as companhias aéreas possam atender diferentes segmentos de passageiros e mercados com maior eficácia.

Dado o cenário dinâmico do setor aéreo, torna-se evidente que a escolha entre point-to-point, hub-and-spoke ou um modelo híbrido depende de diversos fatores estratégicos. No próximo capítulo, aprofundaremos a análise e buscaremos responder à principal questão deste artigo: Afinal, qual é o melhor modelo?

O melhor modelo

A resposta para essa pergunta pode te deixar um pouco frustrado, mas a verdade é que a escolha do melhor modelo depende dos objetivos estratégicos de cada companhia aérea. Não existe um modelo universalmente melhor, mas sim aquele que melhor atende às necessidades específicas da empresa e do mercado em que atua.

Mas para não te deixar desapontado desenvolvemos a tabela ao lado que sintetiza as indicações de uso de cada modelo de acordo com diferentes cenários e perfis de operação. Desta forma, você pode eleger o melhor modelo para a sua realidade.

Empresas como Southwest Airlines e Ryanair demonstram como o point-to-point pode ser altamente eficiente para voos de curta distância e mercados de alta demanda. Por outro lado, grandes operadoras como Lufthansa e Delta Air Lines utilizam predominantemente o modelo hub-and-spoke, garantindo uma ampla conectividade global.

Já companhias como LATAM Airlines e Azul Linhas Aéreas adotam um modelo híbrido, combinando voos diretos em mercados estratégicos com conexões via hubs para ampliar sua rede de destinos.

Portanto, a escolha do modelo ideal dependerá da estratégia da empresa, do mercado em que opera e das necessidades dos passageiros. No próximo capítulo, abordaremos as considerações finais sobre a escolha do modelo ideal para diferentes cenários do setor aéreo.

Considerações

Após uma análise detalhada dos modelos point-to-point, hub-and-spoke e híbrido, fica evidente que não há um único modelo ideal para todas as companhias aéreas. A escolha depende das características do mercado, da estratégia de expansão da empresa e das necessidades dos passageiros.

As companhias low-cost tendem a adotar o modelo point-to-point para reduzir custos operacionais e oferecer tarifas mais competitivas. Já as grandes operadoras globais priorizam o hub-and-spoke para maximizar a ocupação das aeronaves e expandir sua malha aérea. Por outro lado, empresas que atendem a diferentes perfis de passageiros e mercados costumam adotar uma abordagem híbrida, combinando os dois modelos para otimizar a eficiência e a conectividade.

Em um setor dinâmico como o da aviação, a adaptação contínua das estratégias de malha aérea é fundamental para garantir a competitividade. O avanço tecnológico, a análise de dados e a evolução da demanda do mercado continuarão influenciando a forma como as companhias estruturam suas operações nos próximos anos.

Independentemente do modelo escolhido, o planejamento estratégico da malha aérea é essencial para equilibrar custos, atender à demanda e oferecer uma experiência satisfatória aos passageiros. Assim, cada companhia deve avaliar cuidadosamente suas necessidades e definir a abordagem que melhor se alinha aos seus objetivos de longo prazo.


Referências Bibliográficas
Abdelghany, A.; Abdelghany, K. 2019. Airline Network Planning and Scheduling. 1 ed. John Wiley & Sons, Inc, Hoboken, NJ, USA.
Bailey, E. E., Graham, D. R., & Kaplan, D. P. 1985. Deregulating the Airlines. MIT Press.
Wensveen, J. G. 2015. Air Transportation: A Management Perspective. Routledge.
Science HowStuffWorks. Airline Networks: A Comparison of Hub-and-Spoke and Point-to-Point Systems. Disponível em: https://science.howstuffworks.com/transport/flight/modern/airline3.htm. Acesso em: 28 fev. 2025.
ResearchGate. Airline Networks: A Comparison of Hub-and-Spoke and Point-to-Point Systems. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/283359169_Airline_Networks_A_Comparison_of_Hub-and-Spoke_and_Point-to-Point_Systems. Acesso em: 28 fev. 2025.
Transport Geography. Airline Deregulation and Hub-and-Spoke Networks. Disponível em: https://transportgeography.org/contents/chapter5/air-transport/hub-spoke-deregulation/. Acesso em: 28 fev. 2025.

Sobre o autor: 
Antônio Lourenço Guimarães de Jesus Paiva 
Pai da Helena
Diretor da Flylines 
Graduado em Aviação Civil pela Universidade Anhembi Morumbi
Especialista em Planejamento e Gestão Aeroportuária pela Universidade Anhembi Morumbi
Especialista em Gestão de Marketing pela Universidade de São Paulo
Especialista em Data Science e Analytics pela Universidade de São Paulo
Anterior
Anterior

Como a meteorologia influencia o planejamento de malha aérea

Próximo
Próximo

O que está acontecendo com a segurança dos voos no Brasil?!