A recente queda no preço dos combustíveis pode aumentar a demanda por voos?

Nos últimos dias, temos visto a adoção de uma política de redução de preço nos combustíveis de aviação, por iniciativa da Petrobras. Na última sexta-feira (26 de agosto), a estatal reduziu o valor do litro do QAV (querosene de aviação) em 10,4%. Ontem (29 de agosto), foi a vez de aplicar uma redução, ainda mais acentuada, no GAV (gasolina de aviação), que teve seu preço abatido em 15,7%.

Desta forma, a estatal possibilita uma importante contenção de custos em, quase, todos os setores do meio aéreo. O GAV, por exemplo, é empregado em aeronaves de pequeno porte, como as presentes em aeroclubes e em pequenas empresas de táxi aéreo. Já o QAV, por sua vez, é amplamente utilizado na aviação comercial pelas companhias aéreas. Estas medidas devem entrar em vigor no próximo dia 1º de setembro.

A partir destas notícias, seria razoável aguardar por uma queda nos preços das passagens e um consequente aumento na demanda por voos, correto? Contudo, sabemos que, nem sempre, as coisas funcionam de uma forma tão simples e direta. Neste artigo, vamos conversar um pouco sobre as possíveis consequências desta redução e se ela será capaz, por si só, de promover um amento considerável na demanda por voos. Convidamos você a conversar conosco sobre este assunto. Vamos lá?

Qual a participação dos combustíveis na relação de custos de uma companhia aérea?

Antes de falarmos sobre como esta redução de preços pode ser efetiva no aumento da demanda por voos, é preciso compreendermos a estrutura de custos de uma companhia aérea e o percentual de participação dos combustíveis na formação do preço final ao consumidor. A partir destas informações, podemos estimar o nível de elasticidade do mercado e responder, por fim, o quanto o ponteiro da demanda pode mudar de posição com as medidas de redução de preços adotadas pela Petrobras.

Conforme dados estatísticos da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), em 2021 as empresas aéreas do país informaram que o custo com consumo de combustíveis e lubrificantes representava 22,6% do volume total de custos das companhias. No gráfico abaixo é possível observar os principais elementos da estrutura de custos de uma empresa aérea e a relação entre o custo com consumo de combustíveis e outras formas de despesas.

Quanto os combustíveis interferem no preço final ao consumidor?

Digamos que uma passagem aérea entre a cidade de São Paulo e a cidade do Rio de Janeiro tenha o preço estabelecido em R$ 100,00 para o consumidor final. Considerando uma média de margem de lucro de 22% (conforme também apurado pela ANAC em 2021), teríamos 78%, deste valor, compostos por custos operacionais e administrativos da companhia. Quando convertidos para o valor monetário, estes 78% representariam, exatos, R$ 78,00 de custos. Como já sabemos que 22,6% dos custos de uma companhia advêm das despesas com consumo de combustíveis e lubrificantes, podemos afirmar que R$ 17,63 são gastos com o propósito de abastecer uma aeronave, em uma passagem que custou R$ 100 para o consumidor final.

Uma redução de 10,4% no preço dos combustíveis, como anunciado pela Petrobras, representaria uma redução de R$ 1,83, nesta nossa conta hipotética. Esta redução significaria para o consumidor final, caso todos os outros fatores se mantivessem estáveis, uma diminuição de 1,83% no preço final da passagem, que passaria a custar R$ 98,17.

Esta redução é capaz de refletir na demanda por voos?

Sim, segundo pesquisa recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a demanda por transporte aéreo no Brasil apresenta um comportamento elástico quanto a variação do preço. Em outras palavras, isso significa que uma possível redução de 1,83% nos preços das passagens aéreas, poderia significar um aumento de 2,1% na demanda por voos. Este valor, apesar de aparentemente pequeno, quando posto em perspectiva dos milhões de passageiros que hoje utilizam o transporte aéreo no país, pode significar o ingresso de um número relevante de novos consumidores.

Considerações

Antes de darmos por finalizado este assunto, é preciso estarmos atentos a alguns pontos importantes e que não foram debatidos. O primeiro é que não é possível garantir que esta redução no preço dos combustíveis irá, de fato, chegar ao preço praticado para o consumidor final. As companhias poderiam, simplesmente, ampliar suas margens de lucros com esta redução. Outro ponto importante a ser ressaltado, diz respeito a compreendermos que, mesmo que esta redução não chegue ao consumidor final, ela representa um aumento na receita das companhias o que pode significar um alívio para as empresas que atravessaram um período difícil durante os anos pandêmicos, amargando prejuízos, sendo esta, portanto, uma boa notícia para o setor, de qualquer modo. Por fim, é necessário observarmos que o resultado obtido em nosso cálculo tende a ser superestimando, uma vez que não consideramos as despesas com lubrificantes que estão inseridas nesta equação, mas às quais não foi possível ter acesso.



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Referência bibliográficas
Shaw, S. 202. Airline Marketing and Management. 7ed. SSA Ltd, Oxfordshire, UK.
International Civil Aviation Organization. 2006. Manual on Air Traffic Forecasting. 3ed.
IPEA. ELASTICIDADE-PREÇO E ELASTICIDADE-RENDA DE PASSAGEIROS POR MODO DE TRANSPORTE PARA PROJEÇÃO DE MATRIZES ORIGEM-DESTINO NACIONAL. Disponível em:  <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/10128/1/Radar_61_elasticidade-pre%C3%A7o.pdf>. Acesso em: Acesso em: 30 ago.2022.
ANAC. Empresas aéreas brasileiras apresentam lucro no segundo trimestre. Disponível em:  <https://www.gov.br/anac/pt-br/noticias/2021/empresas-aereas-brasileiras-apresentam-lucro-no-segundo-trimestre>. Acesso em: Acesso em: 30 ago.2022.

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