A queda do Galeão
Nos últimos anos, os observadores da indústria da aviação têm notado um movimento intrigante no Rio de Janeiro. Os dois principais aeroportos da cidade, o Aeroporto Internacional Tom Jobim - Galeão e o Aeroporto Santos Dumont, têm passado por mudanças significativas, com o Galeão vendo uma redução notável no tráfego aéreo e o Santos Dumont, por outro lado, lidando com a sobrecarga de voos.
Causas
As causas dessa mudança parecem ser multifacetadas, mas alguns pontos-chave surgem na análise.
Política de Aviação Civil: A primeira parece ser uma consequência não intencional da política de aviação civil brasileira que, ao tentar descentralizar o tráfego aéreo e promover a concorrência, pode ter levado à sobrecarga do Santos Dumont. Esta política permitiu a operação de mais voos domésticos para o aeroporto central, enquanto o Galeão, um aeroporto internacional, viu a redução de voos.
Localização e Acesso: O Santos Dumont, localizado no centro da cidade, é de fácil acesso, o que pode ter contribuído para sua preferência tanto por passageiros quanto por companhias aéreas. O Galeão, por outro lado, localizado na Ilha do Governador, é mais distante e, embora possua uma capacidade maior, enfrenta desafios de conectividade e acesso.
Consequências
Esta mudança na dinâmica de tráfego aéreo trouxe uma série de consequências preocupantes.
Impacto Econômico: A subutilização do Galeão representa uma perda financeira significativa para o Rio de Janeiro. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) estima que o estado perde cerca de 4,5 bilhões de reais por ano por não maximizar o uso do Galeão.
Pressão sobre a Infraestrutura: Com o Santos Dumont operando além de sua capacidade ideal, há uma pressão enorme sobre sua infraestrutura. Isso não só causa inconveniências para os passageiros devido a filas longas e demoradas, mas também levanta preocupações de segurança.
Perda de Status Internacional: Há uma preocupação genuína de que o Rio de Janeiro, que se orgulha de ser uma cidade global e a capital do turismo brasileiro, possa perder seu status se não mantiver um aeroporto internacional operando em plena capacidade.
Considerações
A situação requer reflexão cuidadosa e ação imediata. Uma solução potencial poderia ser um plano coordenado para reequilibrar o tráfego entre os dois aeroportos, possivelmente redirecionando alguns voos domésticos para o Galeão e incentivando as companhias aéreas a operar mais voos internacionais lá.
Além disso, deve-se considerar a melhoria do acesso e da conectividade ao Galeão, tornando-o mais atraente tanto para passageiros quanto para companhias aéreas. Investimentos em infraestrutura, tanto no Galeão quanto em suas conexões de transporte, podem ser parte da solução.
Finalmente, talvez seja o momento de revisitar a política de aviação civil e analisar se a descentralização do tráfego aéreo deve ser complementada com diretrizes adicionais para garantir que aeroportos internacionais como o Galeão não sejam negligenciados.
A aviação é uma parte crucial da economia global e nacional, e o desequilíbrio atual nos aeroportos do Rio de Janeiro é um problema que precisa ser resolvido. A solução exigirá a colaboração de todos os stakeholders, do governo aos passageiros, às companhias aéreas e operadores de aeroportos. A indústria da aviação brasileira tem potencial para voar alto - mas somente se todos os seus aeroportos estiverem prontos para autorizar esta decolagem.